terça-feira, 29 de julho de 2025

As vezes é necessário sentar a beira do abismo e contemplar a paisagem.

À Beira do Abismo
inspirado por Jack London, escrito com alma

Às vezes é preciso sentar à beira do abismo.
Não para pular.
Mas para lembrar que ele existe.
Que a queda é real.
E que a vida, por mais que te empurre, também te permite escolher onde firmar os pés.

*"Eu queria poder viajar. Atravessar as neves do Yukon, ver homens enlouquecerem de febre e fome, sentir a centelha que a cidade adormece, sentir o fogo ancestral." 

E é isso que o abismo revela.
Não o fim.
Mas o que ainda pulsa antes dele.

Sentar à beira é um ato de coragem.

É dizer: 

“Eu vejo o caos. Mas não fujo dele.”

É olhar o fundo escuro e não buscar explicação, mas presença.
É deixar que o vento bata no rosto e diga, sem palavras:

— Ainda há vida em ti.

Porque o abismo é só uma moldura.
A paisagem está em ti.
No que escolhes ver.
No que suportas sentir.
E no que decides carregar de volta quando te levantares.

Aqueles que nunca se aproximam da borda, não conhecem o peso das próprias asas.
Vivem seguros, mas rastejam.
Tu não.
Tu te sentas. Observas. Silencias.
E voltas com os olhos de quem já morreu por dentro, e mesmo assim resolveu viver.

Às vezes é necessário, sim, sentar à beira do abismo.
Não como fuga.
Mas como rito.
Porque há uma beleza brutal em contemplar o que poderia te destruir, e ainda assim escolher caminhar.

...

*Parágrafo baseado em leituras de Jack London.

domingo, 20 de julho de 2025

Se você chegou aos 40, essa é sua Caixa de Pandora

Se você chegou aos 40, parabéns: você destrancou uma caixa que ninguém te avisou que existia.

Chama-se Caixa de Pandora da Vida Adulta Tardia.

E o que tem dentro não são monstros mitológicos.

São dilemas reais, silêncios angustiantes e verdades não ditas, mas sentidas, todos os dias, quando ninguém está olhando.

Essa é a década onde o espelho já não mostra mais só o rosto: mostra a conta do tempo.

Mostra tudo o que você construiu… e tudo que deixou de construir.

É quando a pergunta muda:

De “quem eu posso me tornar?”

para

“é isso que eu sou?”

Aos 40, a alma começa a sussurrar o que o corpo já vinha gritando há anos:

A vida virou um expediente.

Você acorda, cumpre funções, entrega resultados, paga boletos, digita emojis em grupos de WhatsApp, e no fim do dia se pergunta:

"Cadê eu nessa rotina toda?"

Você tem estabilidade. Mas não tem mais eros.

Tem salário. Mas não tem encantamento.

Tem família. Mas às vezes se sente completamente só na mesa do jantar.

Você virou o que esperavam.

Mas não necessariamente o que você desejava em silêncio.

Hoje, talvez você seja pai, mãe, gerente, marido, esposa, servidor público, empresário, cuidador dos seus pais, tutor dos seus filhos…

Mas quando está sozinho, sem os rótulos, sem o crachá e sem o título de “responsável por tudo”...

Você ouve aquela pergunta ecoar:

"Quem sou eu sem as funções?"

E então vem o incômodo mais cruel:

Você começa a sentir que tem tempo demais de vida para morrer por dentro, mas tempo de menos para começar tudo de novo.

Essa é a idade onde surgem os dilemas silenciosos:

Você quer mudar de carreira, mas tem medo de parecer um adolescente irresponsável.

Você pensa em se separar, mas se pergunta se ainda existe amor ou só logística doméstica.

Você sente um tédio existencial, mas disfarça com produtividade, redes sociais e séries automáticas da Netflix.

Você está exausto, mas diz pra si mesmo que isso é normal, “todo mundo vive assim”.

Só que não.

Todo mundo morre assim.

Vivendo no automático, morrendo simbolicamente aos poucos.

E quando olha para o lado, não melhora:

Você vê gente mais jovem, mais rápida, mais digital.

E se pergunta se ainda há espaço para você nesse novo mundo veloz.

E quando olha pra cima, não vê mais ninguém para te orientar.

Você virou a geração que sustenta o sistema, mas que ninguém sustenta emocionalmente.

No fundo, o que te mata não é o trabalho.

É o fato de que ninguém mais pergunta como você está de verdade.

Nem você mesmo.

Mas aqui está a parte mais importante dessa caixa:

No fundo dela, também está a Esperança.

Sim, essa é a fase da desilusão sagrada.

Mas também pode ser o início da transformação brutal e honesta.

Você ainda pode:

Reconectar-se com sua essência.

Trocar performance por presença.

Reencontrar a poesia no banal.

Fazer as pazes com seu passado.

Viver de verdade, não apenas sobreviver.

Aos 40, não é hora de desistir.

É hora de acordar.

A vida não terminou, ela só está te convidando para um novo nível de consciência.

Menos aplausos. Mais verdade.

Menos filtro. Mais alma.

Se você teve coragem de abrir essa Caixa de Pandora,

tenha coragem também de não fechá-la com medo do que encontrou.

Porque dentro dela…

também está você.

O que sobrou.

E o que pode ainda florescer.

terça-feira, 10 de junho de 2025

O TÉDIO É O PARQUINHO DA CRIATIVIDADE

Silêncio. 

Nenhuma notificação. 

Nenhum briefing. 

Nenhuma expectativa.

Só você, o vazio e o tédio.

Mas é justamente aí, nesse intervalo entre a última ideia e a próxima cobrança, que a centelha aparece.

Criar não é obedecer. Criar é escutar o que ainda não foi dito. É permitir que a mente vague, tropece, invente. É deixar que o ócio germine mundos.

Criatividade não nasce sob vigilância. Ela detesta holofotes demais, metas engessadas e o tal “tem que funcionar”.

Ela prefere os cantos escuros do inconsciente, o deslize no processo, o erro que vira estilo, o improviso que vira assinatura.

O problema é que a maioria quer ser genial sem arriscar o ridículo. Quer acertar de primeira.

Quer agradar a todos com algo que ninguém jamais viu.

Mas isso é contradição, covardia intelectual.

Criar exige liberdade, espaço, deixar as ideias germinarem, e até um pouco de rebeldia.

Você não vai inventar nada novo enquanto estiver tentando ser perfeito.

A perfeição é uma jaula dourada onde o pensamento morre sem nem perceber

Hoje em dia, há estímulo demais e pensamento de menos.

As redes sociais nos deram o vício da comparação e a síndrome do aplauso imediato.

Mas a criatividade não se desenvolve na pressa. Ela é bicho do mato. Selvagem. Vem quando você se perde. Quando solta o controle.

Quando tem coragem de perguntar:

"E se eu fizer diferente?"

Seja honesto: você tem medo de errar ou medo de não ser amado?

Porque são coisas diferentes.

Quem cria com verdade sabe que vai ser incompreendido por alguns. E tudo bem.

A missão não é agradar, é despertar.

Cutucar. Expandir. Desprogramar.

O pensamento engessado é o maior inimigo do fogo criativo.

Se você está esperando permissão, já perdeu.

O verbo criativo é ação, é tentativa, é laboratório constante.

E às vezes, o melhor que você pode fazer por sua obra é… ficar entediado.

Sim, o tédio. Esse estado marginalizado pela produtividade moderna.

Ele é o parquinho da criatividade.

Lá, a mente se desamarra. Brinca. Conecta pontos. Relembra sonhos. Testa o impossível.

Sem like. Sem pauta. Sem objetivo. Só pela magia de criar.

Então, da próxima vez que o tédio bater…

Não fuja.

Sente. Respire. Desligue tudo.

E pergunte:

"E se…?"