Nunca se soube tanto e, paradoxalmente, nunca se pensou tão pouco.
Vivemos atolados numa enchente de dados, memes, opiniões, links, breaking news, vídeos de gente explicando tudo com uma certeza que nem os filósofos mais calejados ousariam ter. É a Infomaré: esse dilúvio de informação que não cessa, que te invade, que te consome sem pedir licença.
E aí entra o velho e cruel Efeito Dunning-Kruger: quanto menos a pessoa sabe, mais confiante ela se torna sobre aquilo que acha que sabe. É a ignorância vestida de arrogância, um ego inflado flutuando numa poça rasa. Enquanto isso, quem realmente se debruça sobre o saber, quem lê, estuda, investiga, muitas vezes só encontra mais perguntas, mais abismos, mais silêncios.
Schopenhauer já avisava: o mundo é vontade cega e representação ilusória. O homem, movido pela ilusão de conhecer, se debate contra a dor de existir, mas agora, com wi-fi.
Troca angústia metafísica por Google, busca sentido em listas de “dez coisas que você precisa saber antes dos 40” e se afoga em tutoriais de como ser feliz em cinco passos.
Só que felicidade, como dizia o velho pessimista alemão, não existe como estado permanente, só alívios momentâneos de uma dor maior que é estar vivo.
Mas tenta explicar isso na internet...
O algoritmo quer certezas, slogans, frases de efeito que cabem num tweet. Ninguém quer lidar com a complexidade do ser, com o trágico da vida, com o vazio essencial.
E assim seguimos, afogados na Infomaré, achando que saber o “fato do dia” ou ter opinião sobre o último escândalo político é o mesmo que ter consciência. Não é. Consciência exige humildade: admitir que não se sabe, que não se domina, que a vida é caos e mistério, que, talvez, nunca escape disso.
Enquanto os ignorantes vociferam certezas, os que realmente pensam mastigam dúvidas e mastigam até sangrar.
Porque, como Schopenhauer diria, viver é sofrer, e saber disso não alivia, mas torna a existência um pouco mais lúcida.
No fim, a Infomaré vai passar.
Vai sobrar quem aprendeu a nadar no caos, e quem nunca percebeu que estava se afogando.
Quer mesmo uma certeza?
Então anota essa: ninguém sabe nada.
E quem sabe disso…
Já está meio salvo.